quinta-feira, 13 de setembro de 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Mais um desserviço da Globo

A campanha "É preciso mudar" defende a descriminação das drogas, não
deixa isso claro, mas entra na sua casa em horário nobre, pela Globo. Um mau passo da emissora, além de autoritário!
Reinaldo Azevedo


Caros, vai aqui um daqueles textos quilométricos, mas que tratam de uma
questão séria: descriminação das drogas. Uma campanha está em curso na
TV Globo. E eu digo por que ela tem de sair do ar.
*
O meu arquivo está aí. Combato boa
parte das críticas bucéfalas que são feitas à Rede Globo, especialmente
pela esquerda cascuda. No mais das vezes, não passam de tolices
conspiratórias e de chororô de derrotados. Mas a emissora também comete
erros. Ter aderido à campanha "É Preciso Mudar", que defende a
descriminação das drogas — embora o faça de modo oblíquo —, é um erro
colossal. Sobretudo porque, lamento ter de fazer esta consideração, o
telespectador está sendo enganado. Vamos ver. O objetivo é reunir um
milhão de assinaturas para propor uma nova lei sobre drogas. E por que
acuso a burla? Porque o que se quer mesmo é a descriminação das drogas, e isso não fica claro.
Vocês
certamente já assistiram à peça publicitária, exibida nos intervalos da
novela "Avenida Brasil". Deve fzer parte do marketing social da
emissora. Atores representam consumidores de drogas que teriam sido
presos injustamente por tráfico, tendo, então, suas vidas bastante
prejudicadas por aquilo que é tratado como uma "injustiça". O ar
compungido, o olhar sofrido, a postura de vítima… Até parece que estavam plantando uma árvore, ajudando uma velhinha a atravessar a rua ou dando leite pro gatinho quando, de súbito, chegaram os homens da lei, como
numa história de Kafka, e os conduziram para alguma estranha repartidão
do estado repressor. Não! Tratava-se de pessoas envolvidas com as drogas e certamente não ignoravam as possíveis implicações legais. Ocorre que, no Brasil, todos são sempre vítimas — tanto as vítimas de fato como os
seus algozes.
Muito bem! Já
hoje o Brasil não prende o usuário de droga. Aquela Comissão de Juristas que quer mandar para a cadeia quem maltrata um cachorro e liberar o
aborto de humanos, que não merecem ter o status de um cachorro, também
foi absolutamente laxista com o usuário de substâncias ilegais. A
proposta enviada ao Senado, certamente endossada pela turma do "É
preciso mudar", exclui do crime quem (leiam com atenção, em vermelho):
I – adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo drogas para consumo pessoal;
II – semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de drogas para consumo pessoal.
§3º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, à conduta,
ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, bem como às
circunstâncias sociais e pessoais do agente.
§4º Salvo prova em contrário, presume-se a destinação da droga para uso
pessoal quando a quantidade apreendida for suficiente para o consumo
médio individual por cinco dias, conforme definido pela autoridade
administrativa de saúde.
Voltei
Entenderam? Se é consumo para cinco dias, tudo bem. Um usuário de crak pode dar conta de até 20 pedras por
dia. Logo, se alguém for pego — quero dizer, "abordado" — com 100
pedras, poderá alegar "uso pessoal". Um fumante regular de maconha
queima quatro ou cinco cigarros diariamente (sim, há quem fume muito
mais), mas vá lá. Quem andasse por aí com erva para 20 cigarros, tudo
bem! O mesmo valeria para papelotes de cocaína, heroína… Ah, mas a
comissão endurece as penas para o narcotráfico! Uau!
Notável
pensamento! Criam-se todas as condições para um aumento da demanda, mas
depois se promete severidade na repressão à oferta! Vai ver os nossos
juristas — e também os notáveis do "É preciso Mudar" — estão dedicados a combater o consumo de drogas pela elevação da inflação do setor, né? É
tudo de um ridículo sem par.
Não deixa claro
A campanha "É Preciso Mudar", veiculada de graça pela Rede
Globo — e isso a torna, lamentavelmente, parceira da iniciativa lunática — não deixa claro o que exatamente tem de ser mudado. Limita-se a
defender uma diferenciação entre o tráfico e o consumo. E aí se leem
essas três pérolas em sua página na Internet (em vermelho). Comento cada uma em azul:
1 – A Lei 11.343/2006, que normatiza a
política de drogas no Brasil não faz distinção clara e objetiva entre
usuário e traficante.
É mentira. A íntegra da lei está aqui. O Artigo 28 deixa claro que ninguém é preso porque apenas consumidor. O máximo que lhe pode acontecer é isto:
"I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo."
2 – Desde que a legislação entrou em vigor, dobrou o número de presos por crimes
relacionados às drogas no Brasil. Essa falta de clareza está levando à
prisão milhares de usuários que não são traficantes.
É um raciocínio de um cretinismo à
altura de alguns promotores da campanha — já falarei a quem pertencem as mãos que balançam esse berço. Ainda que tenha aumentado depois da lei,
não quer dizer que seja por causa da lei. Aliás, dado que o texto é mais brando com o usuário do que a anterior, só se pode concluir que ele não tem relação nenhuma com o anunciado aumento de presos. Pode até haver
consumidores em cana como se fossem traficantes, mas a lei, em si, não
pode estar entre as causas. Se há maus operadores da legislação, esse é
outro problema. Trata-se de um exercício de lógica elementar. Vocês
verão que uma comissão que se envolveu com essa tese reúne, entre
muitos, um grande empresário e dois banqueiros. Não devem lidar com essa lógica nos seus negócios. Ou iriam à falência.
3 – A maioria
desses presos nunca cometeu outros delitos, não tem relação com o crime
organizado e portava pequenas quantidades da droga no ato da detenção.
A Globo deveria submeter esse mimo
da mentira e da estupidez a seu excelente Departamento de Jornalismo
para que seus telespectadores não fossem enganados por uma proposta
tresloucada. O que vai nos itens 2 e 3 não passa de chute, de achismo,
de vigarice intelectual. Faço aqui um desafio: exibam a base de dados. É o mínimo que a emissora campeã de audiência, que detém uma concessão
pública, pode exigir e mostrar. Cadê a pesquisa? Onde estão os dados?
Não existem!
Retomando
A questão das drogas, assim como a
do aborto, é refém de mitômanos, que ficam inventando e divulgando
números que não existem. Até outro dia, espalhava-se aos quatro ventos,
por exemplo, que morriam no Brasil, por ano, 200 mil mulheres vítimas de aborto, lembram-se? Este senhor que vos escreve resolveu fazer uma
continha boba: busquei saber quantos são os mortos por ano no país e
quantos desses mortos são mulheres, identificando as causas, faixa
etária dos óbitos etc. O Ministério da Saúde tem uma base dados. O post
está aqui. Resultado: essa é uma das mentiras mais escancaradas jamais contadas no Brasil. Pararam com essa balela. De janeiro a setembro de 2011,
morreram durante a gestação ou parto 1.038 mulheres. Os aborteiros
multiplicam o número por quase DUZENTOS para que sua causa tenha
visibilidade. O suposto pensamento politicamente correto (o que há de
correto em matar um feto???) adere à causa e sai divulgando a falácia.
A mesma
falácia a que se dá curso no caso das drogas. Esses números não existem! Que eu saiba, a maioria dos quase 500 mil presos brasileiros cometeu
crimes contra o patrimônio, ainda que eventualmente associados ao
tráfico ou ao consumo de drogas. Essa legião de simples consumidores,
todos coitadinhos e réus primários, é uma invenção da turma. A Globo
deve acionar o seu excelente Departamento de Jornalismo antes de cair
nessa esparrela.
Quem apoia e o que se quer?
A campanha tem o apoio da ONG Viva Rio, comandada por Rubens Cesar Fernandes (por que não teria?), da Comissão Brasileira Sobre Droga e Democracia, da Associação Nacional dos Defensores Públicos, da Secretaria Estadual
de Saúde do Rio e da Fundação Oswaldo Cruz. Um dos idealizadores da
iniciativa é Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça,
demitido por Dilma depois que defendeu que os "pequenos traficantes" — e não apenas os usuários de drogas — não fossem presos. Foi a primeira
vez que aplaudi a presidente. Reitero: Abramovay quer liberdade também
para pequenos traficantes e só perdeu o cargo por isso. Referi-me a ele
aqui anteontem. Certas afirmações que não estão amparadas em fatos sobre as drogas podem ser de sua lavra. Ao comentar o Mapa da Violência, por
exemplo, e constatar que, em 10 anos, em São Paulo, houve uma queda de
mais de 80% de mortos entre zero e 19 anos — quando os índices
brasileiros explodiram —, ele não teve dúvida: atribuiu o feito ao… PCC, não à eventual eficiência da política de segurança pública ou à
polícia. Com base em quais dados ou pesquisa ele fez tal afirmação? Ele
não precisa disso! É um rapaz cheio de ideias. Pratica sociologia e
direito criativos.
A campanha da TV, reitero, não deixa claro o que se quer. É a descriminação! Tanto é assim que foi essa a notícia dada pela Folha e reproduzida pelo site do grupo, sem qualquer reparo. Quem noticiou
cheia de entusiasmo o lançamento da campanha foi a revista "SemSemente", dedicada à defesa da legalização da maconha. O texto encerra de modo bastante eloquente (em vermelho):
A veterana Regina Sampaio foi mais
além "Eu venho de uma geração bem atrás, quando o assunto das drogas era bem diferente. Hoje ele é uma questão social. Eu sempre fui contra
radicalismos, para mim tudo que você faz dentro do seu limite é
permitido. Prefiro que meu filho fume maconha do que beba. Tudo que é
exagero faz mal, mas eu acho que a maconha não faz mal para ninguém. É
muito pior um bêbado em casa do que um cara que fuma unzinho na dele."
Após esse depoimento Rubem Cesar encerrou o evento, restando aos poucos
presentes uma mesa farta de croquetes, sanduiches de linguiça e outros
quitutes, devidamente atacada enquanto, em off, se rediscutia tudo que
foi debatido…
Tudo
devidamente compreendido. Não sei quem é Regina Sampaio nem em que ela é "veterana", mas, dado o seu depoimento, fiquei aqui a imaginar. Mas
mais não escrevo.
Estes são os
integrantes da Comissão Brasileira Sobre Drogas e Democracia, segundo
leio em sua página na internet (volto depois):

Paulo Gadelha – Presidente da Fiocruz; Rubem César Fernandes – Diretor
executivo do Viva Rio; Carlos Costa – Liderança Comunitária; Carlos
Velloso – ex-ministro do Supremo Tribunal Federal; Celina Carpi –
Presidente do Movimento "Rio Como Vamos"; Celso Fernandes – Presidente
da Visão Mundial Brasil; Dráuzio Varela – Médico e escritor; Edmar Bacha
– Economista e Ex-Presidente do BNDES; Einardo Bingemer – Coordenador
do Projeto Latino-Americano de Pesquisa sobre Comunidades Terapêuticas
(LATC Research); Ellen Gracie – Ministra do Supremo Tribunal Federal;
Joaquim Falcão – Diretor da Escola de Direito da FGV; João Roberto
Marinho – Vice-presidente das Organizações GLOBO; Jorge Hilário Gouvêa
Vieira – Advogado; Jorge da Silva – Coronel da Polícia Militar do Rio de
Janeiro; José Murilo de Carvalho – Doutor em ciência política,
professor titular do IFCS/UFRJ e membro da Academia Brasileira de
Letras; Lilia Cabral – atriz; Luiz Alberto Gomes de Souza – Sociólogo,
liderança leiga da Igreja Católica; Maria Clara Bingemer – Decana da
Faculdade de Teologia da PUC-Rio; Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça –
Ensaísta e poeta, membro da Academia Brasileira de Letras; Paulo
Teixeira – Deputado Federal; Pedro Moreira Sales – Presidente do
Conselho Itaú Unibanco; Regina Maria Filomena Lidonis De Luca Miki –
Coordenadora do CONSEG e ex-Secretária de Defesa Social da Prefeitura de
Diadema; Regina Novaes – Antropóloga, ex-presidente do Conselho
Nacional de Juventude; Roberto Lent – Neurocientista, doutor em ciências
e professor titular da UFRJ; Rosiska Darcy de Oliveira – Escritora e
co-presidente do movimento "Rio Como Vamos"; Zuenir Ventura –
Jornalista.
Não sei se
alguém dissente da campanha. Consenso em um grupo tão grande é difícil.
Se há dissensões, nada li a respeito — quando eu não concordo com alguma coisa, deixo claro ou caio fora do grupo (caso eu pertencesse a algum — meu grupo é composto de um só; jornalista que pertence a uma turma está querendo é formar quadrilha…). Se ninguém falou nada, então é porque
endossa a propaganda.
Lamento! Essa
gente está ignorando a realidade e o sentimento da esmagadora maioria do povo brasileiro. Não! Não estou entre aqueles que consideram que
maioria ou minoria definem verdade ou mentira. Esse não é o ponto. Fico
aqui a pensar o que pensam as mães e os pais pobres (hoje, são todos de
"classe média", segundo a nova mística) do país, que têm de sair de
casa, deixando seus filhos aos cuidados da escola, dos vizinhos etc. É
evidente que a descriminação das drogas — É O QUE SE QUER, REITERO —
provocará uma elevação do consumo e aumentará as chances de uma criança
ser exposta a substâncias hoje consideradas ilícitas.
A verdade é
que boa parte dos supostos "bem-pensantes" tem sobre o problema uma
abordagem que é, sim, de classe social: imagina-se que, nas periferias
do Brasil, a droga assume as características do consumo recreativo dos
nossos, como direi?, libertários endinheirados.  O flagelo do crack está aí, aos olhos de toda gente. Com ele, não há diálogo possível — ou
alguém já descobriu essa pólvora?
Encerro
observando que a campanha que está no ar tem ainda claros componentes
autoritários: busca convencer pela emoção; não deixa claro qual é seu
real propósito e omite a agenda de alguns de seus idealizadores. Na
comissão acima, encontro, por exemplo, o deputado Paulo Teixeira (SP),
atual líder do PT na Câmara. Uma pesquisa rápida na Internet, e vocês
encontrarão este valente a defender o cultivo de maconha em
cooperativas. Segundo ele, isso ajuda a combater o tráfico!!! A coca,
creio, ele deixa para as cooperativas dos companheiros bolivianos… Está
de braços dados com Abramovay, aquele que quer pequenos traficantes fora da cadeia…
Pergunto: uma
campanha defendendo outro ponto de vista teria também lugar na TV, uma
concessão pública, ou não? Em nome da equanimidade, da pluralidade e da
transparência, esse negócio tem de sair do ar.
PS – O lobby de pessoas favoráveis à
descriminação das drogas e de consumidores disfarçados de amigos das
ideias é fortíssimo. Este texto é meu, não da VEJA. Não sei o que a
revista pensa a respeito.  Eu respondo por ele, mais ninguém. É muito
tarde, ou muito cedo, para acordar a direção da revista…
PS2 –
Não venham os oportunistas de sempre tentar dar truque aqui e usar o
caso como pretexto para defender, como é mesmo?, "o controle social da
mídia"! Não passarão! Até porque os que querem essa porcaria — Paulo
Teixeira é um deles… — são viciados em outra droga: a droga da ditadura e do autoritarismo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

O modo petista de ver as greves (por Reinaldo Azevedo)

E lá se foi mais uma reunião entre o governo e os representantes dos professores das universidades federais, que estão em greve há mais de dois meses. Nesta terça, haverá uma nova reunião, mas Sérgio Mendonça, secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, afirmou que o acordo ainda está distante. O governo sustenta que o reajuste prometido já significa um gasto extra de R$ 3,9 bilhões nos próximos três anos.

"O governo tem que responder. A categoria está insatisfeita com a proposta apresentada. Se os professores continuam em greve, a responsabilidade é dele. Nossa greve não é ilegal, quem não avança é o governo", afirmou ao jornal O Globo Marinalva Oliveira, presidente do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).
É, minhas caras, meus caros, a negociação entre as lideranças do movimento grevista e o governo é, assim, uma espécie de confronto de dois atrasos… Por que escrevo isso? Bem, o governo é o principal responsável pelo impasse porque não se apressou em propor o prometido plano de carreiras, investiu de maneira irresponsável no inchaço das universidades federais e não pôde arcar com os custos de infraestrutura. Obra do genial Fernando Haddad, o queridinho de boa parte da imprensa paulistana.

Mas é evidente que a pauta de reivindicações dos sindicalistas traz o indisfarçável cheiro da naftalina das esquerdas d'antanho. Leiam esta outra declaração de Marinalva ao Globo:
"O governo achava que a proposta apresentada é um avanço, mas ela desestrutura a carreira. Queremos a correção das distorções salariais. Se um professor tem a mesma função, tem que ter o mesmo reajuste. A proposta atual é pior do que [a progressão de carreira] a que existe hoje; exige critérios de produtividade para progredir na carreira".

Entenderam o busílis? A liderança do movimento grevista é contra uma coisinha básica, presente em todas as instituições e sociedades contemporâneas: a promoção por mérito. E o ministro Aloizio Mercadante, de modo acertado (nesse particular), afirma que esse é um fundamento irrevogável da proposta. Xiii, ele tem problemas com essa palavra, né?

Lembram-se da Apeoesp?
O interessante, morbidamente engraçado, nessa história é que, em São Paulo, a Apeoesp, sob o comando do PT, comandou, em 2010, uma verdadeira guerra contra o programa de qualificação dos professores, que prevê a promoção por mérito. Está na raiz das tentativas de greve que o sindicato tentou, sem sucesso, comandar no estado.

Dilma, agora, não quer ceder a uma revindicação dos professores das universidades federais que ela aplaudiu em São Paulo, quando candidata à Presidência. Mais do que aplaudiu: recebeu a notória Bebel, presidente da Apeoesp, um dia depois de essa grande líder ter comandado uma manifestação de rua cobrando de Serra justamente o que os professores das federais cobram agora da governanta: o fim da promoção por mérito. Uma observação se faz necessária em nome da precisão: a pauta de Bebel era só pretexto. Ela fazia mesmo era campanha eleitoral — foi multada pelo TSE por isso.

Os professores das federais, ao menos, reconheça-se, têm uma pauta equivocada, mas não estão participando de uma conspirata eleitoreira.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Marcha da Insensatez

J.R. GUZZO

O advogado paulista Márcio Thomaz Bastos encontra-se, aos 76 anos de idade, numa posição que qualquer profissional sonharia ocupar. Ao longo de 54 anos de carreira, tornou-se, talvez, o criminalista de maior prestígio em todo o Brasil, foi ministro da Justiça no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus honorários situam-se hoje entre os mais altos do mercado — está cobrando 15 milhões de reais, por exemplo, do empresário de jogos de azar Carlinhos Cachoeira, o mais notório de seus últimos clientes. Num país que tem mais de 800 000 advogados em atividade, chegou ao topo do topo entre seus pares. É tratado com grande respeito nos meios jurídicos, consultado regularmente pelos políticos mais graúdos de Brasília e procurado por todo tipo de milionário com contas a acertar perante o Código Penal. Bastos é provavelmente o advogado brasileiro com maior acesso aos meios de comunicação. Aparece em capas de revista. Publica artigos nos principais veículos do país. Aparece na televisão, fala no rádio e dá entrevistas. Trata-se, em suma, do retrato acabado do homem influente. É especialmente perturbador, por isso tudo, que diga em voz alta as coisas que vem dizendo ultimamente. A mais extraordinária delas é que a imprensa "tomou partido" contra os réus do mensalão, a ser julgado em breve no Supremo Tribunal Federal, publica um noticiário "opressivo" sobre eles e, com isso, desrespeita o seu direito de receber justiça.

Se fosse apenas mais uma na produção em série de boçalidades que os políticos a serviço do governo não param de despejar sobre o país, tudo bem; o PT e seus aliados são assim mesmo. Mas temos, nesse caso, um problema sério: Márcio Thomaz Bastos não é um boçal. Muito ao contrário, construiu uma reputação de pessoa razoável, serena e avessa a jogar combustível em fogueiras; é visto como um adversário de confrontos incertos e cético quanto a soluções tomadas na base do grito. É aí, justamente, que se pode perceber com clareza toda a malignidade daquilo que vem fazendo, ao emprestar um disfarce de seriedade e bom-senso a ações que se alimentam do pensamento totalitário e levam à perversão da justiça. Por trás do que ele pretende vender como um esforço generoso em favor do direito de defesa, o que realmente existe é o desejo oculto de agredir a liberdade de expressão e manter intacta a impunidade que há anos transformou numa piada o sistema judiciário do Brasil. Age, nesses sermões contra a imprensa e pró-mensalão, como um sósia de Lula ou de um brucutu qualquer do PT; mas é o doutor Márcio Thomaz Bastos quem está falando — e se quem está falando é um crânio como o doutor Márcio, homem de sabedoria jurídica comparável à do rei Salomão, muita gente boa se sente obrigada a ouvir com o máximo de respeito o que ele diz.
O advogado Bastos sustenta, em público, que gosta da liberdade de imprensa. Pode ser — mas do que ele certamente não gosta, em particular, é das suas consequências. Uma delas, que o incomoda muito neste momento, é que jornais e revistas, emissoras de rádio e de televisão falam demais, segundo ele, do mensalão, e dizem coisas pesadas a respeito de diversos réus do processo. Mas a lei não estabelece quanto espaço ou tempo os meios de comunicação podem dedicar a esse ou aquele assunto, nem os obriga a ser imparciais, justos ou equilibrados; diz, apenas, que devem ser livres. O que o criminalista número 1 do Brasil sugere que se faça? Não pode, é claro, propor um tabelamento de centímetros ou minutos a ser obedecido pelos veículos no seu noticiá­rio sobre casos em andamento nos tribunais — nem a formação de um conselho de justos que só autorizaria a publicação de material que considerasse neutro em relação aos réus. Os órgãos de imprensa podem, com certeza, ter efeito sobre as opiniões do público, mas também aqui não há como satisfazer as objeções levantadas pelo advogado Bastos. O público não julga nada; este é um trabalho exclusivo dos juízes, e os juízes dão as suas sentenças com base naquilo que leem nos autos, e não no que leem em jornais. Será que o ex-ministro da Justiça gostaria, para cercar a coisa pelos quatro lados, que a imprensa parasse de publicar qualquer comentário sobre o mensalão um ano antes do julgamento, por exemplo? Dois anos, talvez? Não é uma opção prática — mesmo porque jamais se soube quando o caso iria ser julgado.

MINISTRO REPROVADO
A verdade é que a pregação de Márcio Thomaz Bastos ignora os fatos, ofende a lógica e deseduca o público. De onde ele foi tirar a ideia de que os réus do mensalão estão tendo seus direitos negados por causa da imprensa? O julgamento vai se realizar sete anos após os fatos de que eles são acusados — achar que alguém possa estar sendo prejudicado depois de todo esse tempo para organizar sua defesa é simplesmente incompreensível. Os réus gastaram milhões de reais contratando as bancas de advocacia mais festejadas do Brasil. Dos onze ministros do STF que vão julgá-los, seis foram indicados por Lula, seu maior aliado, e outros dois pela presidente Dilma Rousseff. Um deles, José Antonio Toffoli, foi praticamente um funcionário do PT entre 1995 e 2009, quando ganhou sua cadeira na corte de Justiça mais alta do país, aos 41 anos de idade e sem ter nenhum mérito conhecido para tanto; foi reprovado duas vezes ao prestar concurso para juiz, e esteve metido, na condição de réu, em dois processos no Amapá, por recebimento ilícito de dinheiro público. Sua entrada no STF, é verdade, foi aprovada pela Comissão de Justiça do Senado; mas os senadores aprovariam do mesmo jeito se Lula tivesse indicado para o cargo um tamanduá-bandeira. O próprio ex-presidente, enfim, vem interferindo diretamente em favor dos réus — como acaba de acusar o ministro Gilmar Mendes, com quem teve uma conversa em particular muito próxima da pura e simples ilegalidade. Mas o advogado Bastos, apesar disso tudo, acha que os acusados não estão tendo direito a se defender de forma adequada.

Há uma face escura e angustiante na escola de pensamento liderada por Bastos, em sua tese não declarada, mas muito clara, segundo a qual a liberdade de expressão se opõe ao direito de defesa. Ela pode ser percebida na comparação que fez entre o mensalão e o julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados em 2010 por assassinarem a filha dele de 5 anos de idade, em 2008, atirando a menina pela janela do seu apartamento em São Paulo — crime de uma selvageria capaz de causar indignação até dentro das penitenciárias. Bastos adverte sobre o perigo, em seu modo de ver as coisas, de que os réus do mensalão possam ter o mesmo destino do casal Nardoni; tratou-se, segundo ele, de um caso típico de "julgamento que não houve", pois os meios de comunicação "insuflaram de tal maneira" os ânimos que acabou havendo "um justiçamento" e seu julgamento se tornou "uma farsa". De novo, aqui, não há uma verdadeira ideia; o que há é a negação dos fatos. Os Nardoni tiveram direito a todos os exames técnicos, laudos e perícias que quiseram. Foram atendidos em todos os seus pedidos para adiar ao máximo o julgamento. Contrataram para defendê-los um dos advogados mais caros e influentes de São Paulo, Roberto Podval — tão caro que pôde pagar as despesas de hospedagem, em hotel cinco-estrelas, de 200 amigos que convidou para o seu casamento na ilha de Capri, em 2011, e tão influente que um deles foi o ministro Toffoli. (Eis o homem aqui, outra vez.)
Ao sustentar que o casal Nardoni foi vítima de um "justiçamento", Bastos ignora o trabalho do promotor Francisco Cembranelli, cuja peça de acusação é considerada, por consenso, um clássico em matéria de competência e rigor jurídico. Dá a entender que os sete membros do júri foram robôs incapazes de decidir por vontade própria. Mais que tudo, ao sustentar que os assassinos foram condenados pelo noticiário, omite a única causa real da sentença que receberam — o fato de terem matado com as próprias mãos uma criança de 5 anos. Enfim, como fecho de sua visão do mundo, Bastos louvou, num artigo para a Folha de S.Paulo, a máxima segundo a qual "o acusado é sempre um oprimido". Tais propósitos são apenas um despropósito. Infelizmente, são também admirados e reproduzidos, cada vez mais, por juristas, astros do ambiente universitário, intelec­tuais, artistas, legisladores, lideranças políticas e por aí afora. Suas ações, somadas, colocaram o país numa marcha da insensatez — ao construírem ano após ano, tijolo por tijolo, o triunfo da impunidade na sociedade brasileira de hoje.

ABERRAÇÃO IRRELEVANTE
O Brasil é um dos poucos países em que homicidas confessos são deixados em liberdade. O jornalista Antonio Pimenta, por exemplo, matou a tiros sua ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, e admitiu o crime desde o primeiro momento; só foi para a cadeia onze anos depois, num caso que a defesa conseguiu ir adiando, sem o apoio de um único fato ou motivo lógico, até chegar ao Supremo Tribunal Federal. Homicidas, quando condenados, podem ter o direito de cumprir apenas um sexto da pena. Se não forem presos em flagrante, podem responder em liberdade a seus processos. Autores dos crimes mais cruéis têm direito a cumprir suas penas em prisão aberta ou "liberdade assistida". Se tiverem menos de 18 anos, criminosos perfeitamente conscientes do que fazem podem matar quantas vezes quiserem, sem receber punição alguma; qualquer sugestão de reduzir esse limite é prontamente denunciada como fascista ou retrógrada pelo pensamento jurídico que se tornou predominante no país. O resultado final dessa convicção de que só poderá haver justiça se houver cada vez mais barreiras entre os criminosos e a cadeia está à vista de todos. O Brasil registra 50 000 homicídios por ano — e menos de 10% chegam a ser julgados um dia.

Nosso ex-ministro da Justiça, porém, acha irrelevante essa aberração. O problema, para ele, não está na impunidade dos criminosos, e sim na imprensa — que fica falando muito do assunto e acaba criando um "clamor popular" contra os réus. Esse clamor popular, naturalmente, tem dois rostos. É bom quando vai a favor das posições defendidas por Bastos e por quem pensa como ele; é chamado, nesse caso, de "opinião pública". É ruim quando vai contra; é chamado, então, de "linchamento moral". A impunidade para crimes descritos como "comuns", e que vão superando fronteiras cada vez mais avançadas em termos de perversidade, é, enfim, só uma parte dessa tragédia. A outra é a impunidade de quem manda no país. Não poderia haver uma ilustração mais chocante dessa realidade do que a cena, há duas semanas, em que a maior liderança política do Brasil, o ex-presidente Lula, se submete a um beija-mão em público perante seu novo herói, o deputado Paulo Maluf — um homem que só pode viver fora da cadeia no Brasil, pois no resto do planeta está sujeito a um mandado internacional de prisão a ser cumprido pela Interpol. É, em suma, o desvario civilizado — tanto mais perigoso por ser camuflado com palavras suaves, apelos por uma "justiça moderna" e desculpas de que a "causa popular" vale mais que a moral comum. Um dos maiores criminalistas que já passaram pelo foro de São Paulo, hoje falecido, costumava dizer que o direito penal oferece apenas duas opções a um advogado. Na primeira, ele se obriga a só aceitar a defesa de um cliente se estiver honestamente convencido de sua inocência. Na segunda, torna-se coautor de crimes. O resto, resumia ele, é apenas filosofia hipócrita para justificar o recebimento de honorários. Há um abismo entre a postura desse velho advogado e a do doutor Márcio. Fica o leitor convidado, aqui, a ecolher qual das duas lhe parece mais correta.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

Velho Nada! Governinho é de bosque!

O governo Dilma parece velho
MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 26/06/2012


O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.

Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.

O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.

O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.

Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.

A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.

Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.

O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

UNE, defensora de facínoras

Quando a bandeira na UNE não cobre a malversação de dinheiro público, está endossando a repressão, a violência e a morte. Faz sentido!

Vejam esta foto.
ira-enforcamentos

No post anterior, vocês leram que um grupo de esquerdistas foi tomar café da manhã com Mahmoud Ahmadinjead, o ditador terrorista e sanguinário (parece caricatura do Casseta & Planeta, mas é tudo verdade). Ele ganhou até uma bandeira da UNE de presente. A partir de agora, o símbolo da entidade estudantil brasileira foi convertido na corda que enforca os esquerdistas iranianos, os cristãos iranianos, os democratas iranianos, os homossexuais iranianos, todos aqueles, enfim, que o regime mandou e manda ainda para a morte em nome daquele "Deus Único" que o ditador exaltou em seu discurso na "Rio+20″. Um delinquente que toca um programa nuclear secreto e que tem o declarado intuito de varrer um outro país do mapa ser convidado para um evento como esse diz muito, lamento, da seriedade do encontro. Sigamos.
Que estranho mundo este, não é mesmo? Posts abaixo, publico duas fotos da manifestação que pastores evangélicos organizaram contra a presença de Admadinejad no Brasil. Eles cobram do presidente do Irã a libertação de Yousef Nadarkhani, condenado à morte por ter-se convertido ao cristianismo. A iniciativa é do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, atacado por certos "progressistas" porque crítico da tal PL 122, a lei que pune a homofobia. Não porque pregue discriminação contra homossexuais, é evidente, mas porque entende o óbvio: o texto pratica uma espécie de discriminação às avessas (não vou entrar nesse mérito agora porque já escrevi bastante a respeito).
No Irã, homossexuais são enforcados em praça pública. Seus corpos são pendurados em guindastes para servir de exemplo. É o que se vê na foto lá do alto. Oficialmente, e Ahmadinjad declara isso, não há gays no país — a não ser aqueles que se deixam seduzir pelas ideias erradas do… Ocidente! Entenderam? Também não há comunistas. A revolução islâmica os liquidou a todos. A esquerda iraniana ajudou a depor o xá Reza Pahlevi e foi parte ativa da revolução islâmica, mas seus representantes lideraram a fila das execuções.

A tara dos esquerdistas pela tirania religiosa iraniana é antiga. Um delinquente intelectual muito influente como Michel Foucault, ainda apreciado na periferia intelectual do complexo PUCUSP, cantou as glórias de aiatolá Khomeini e seus bravos de maneira miserável. Se vocês quiserem detalhes, leiam o livro "Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B. Andersonh, publicado no Brasil pela editora "É Realizações". O livro reproduz trechos de uma entrevista que ele concedeu a dois jornalistas franceses do Libération. Num dado momento, tomado do que costumo chamar de "estupidez dialética", observou sobre a revolução islâmica:
"Havia demonstrações, verbais pelo menos, de um antissemitismo virulento. Havia demonstrações de xenofobia, e não apenas contra os americanos, mas também contra trabalhadores estrangeiros que tinham ido trabalhar no Irã. O que dá ao movimento iraniano sua intensidade tem sido um registro duplo. De um lado, uma vontade coletiva que tem sido muito fortemente expressada politicamente, e, de outro, o desejo de uma mudança radical na vida comum. Mas essa afirmação dupla só pode ser baseada nas tradições, instituições que carregam uma carga de chauvinismo, nacionalismo, exclusivismo, que eram uma atração muito poderosa para os indivíduos".

Viram só? Foucault, o homem que estudou a microfísica do poder", o pensador que buscava decupar as estruturas autoritárias vigentes no regime democrático burguês, via com olhos mais do que benevolentes — verdadeiramente entusiasmados — as balizas reacionárias da revolução iraniana. Foucault (1926-1984) era gay, o que nunca admitiu claramente, e morreu de AIDS em 1984. No Irã, teria morrido muito antes, vítima da "revolução" cujas glórias cantou. Não foi o único cretino ocidental a se encantar com a tirania religiosa, mas foi o mais festivo, o mais entusiasmado, o mais ousado na estupidez.

Os bastardos brasileiros que foram ouvir o ditador e que lhe fizeram salamaleques pertencem, de algum modo, à mesma cadeia de equívocos que foi integrada por Foucault. Veem em Ahmadinejad o líder de um país que, oh!!!, teria ousado enfrentar o imperialismo e, quem sabe?, os "preconceitos da razão" do mundo ocidental. Também eles devem achar que do antissemitismo, do chauvinismo e da xenofobia se pode fazer algo de interessante…

Vergonha
Sinto por esses caras a vergonha que eles não têm. Tivesse um mínimo de pudor, essa gente estaria protestando contra a perseguição a que Ahmadinejad submete a esquerda em seu país. O PT não promoveria tal ato porque parceiro do asqueroso, mas cadê os "psois" da vida? Onde estão os movimentos de homossexuais do Brasil para se juntar a Malafaia — sim, junta-se a Malafaia nesse caso! — para protestar contra a brutalidade de que são vítimas seus iguais no Irã? Cadê o buliçoso deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)? Cadê a manifestação dos oposicionistas brasileiros, tucanos e democratas especialmente, que têm o dever moral de expressar seu repúdio, dada a intimidade do petismo com o facinoroso? Nada!

Quanto à UNE, que deu uma bandeira de presente a Ahmadinejad, dizer o quê? Quando aquele pano não está cobrindo a malversação de dinheiro público, está endossando a repressão, a violência e a morte. Alguém esperaria muito mais, ou menos, dessa gente?

Mensalão? Que mensalão?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A vingança maligna de Maluf (Editorial do Estadão)

A vingança maligna de Maluf
(Editorial do Estadão)


Perto das imagens que estavam ontem na primeira página dos principais jornais do País, o fato de o PT de Lula ter ido buscar o apoio do PP de Paulo Maluf à candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo chega a ser uma trivialidade. O chocante, pela abjeção, foi o líder petista se dobrar à exigência de quem ele já chamou de "ave de rapina" e "símbolo da pouca-vergonha nacional", indo à sua casa em companhia de Haddad, e posar em obscena confraternização, para que se consumasse o apalavrado negócio eleitoral.

Contrafeito de início, Lula logo silenciou os vagidos íntimos de desconforto que poderiam estragar os registros de sua rendição e cumpriu o seu papel com a naturalidade necessária, diante dos fotógrafos chamados a documentar o momento humilhante: ria e gesticulava como se estivesse com um velho amigo, enquanto o anfitrião, paternal, afagava o candidato com cara de tacho. Da mesma vez em que, já lá se vão quase 20 anos, colocou Maluf nas "nuvens de ladrões" que ameaçavam o Brasil, Lula disse que ele não passava de "um bobo alegre, um bobo da corte, um bufão". Nunca antes - e talvez nunca depois - o petista terá errado tanto numa avaliação.

Criatura do regime militar, desde então com uma falta de escrúpulos que o capacitaria a fazer o diabo para satisfazer as suas ambições de poder, prestígio e riqueza, Maluf aprendeu a esconder sob um histrionismo não raro grotesco a sua verdadeira identidade de homem que calculava. As voltas que o País deu o empurraram para fora do proscênio - menos, evidentemente, no palco policial -, mas ele soube esperar a ocasião de mostrar ao petista quem era o bobo alegre. A sua vingança, como diria o inesquecível Chico Anísio, foi maligna. Colocou de joelhos não o Lula que desceu do Planalto para se jogar nos braços do povo embevecido, deixando lá em cima a sucessora que tirara do nada eleitoral, mas o Lula recém-saído de um câncer e cuja proverbial intuição política parece ter-se esvanecido.

Nos jardins malufistas da seleta Rua Costa Rica, anteontem, o campeão brasileiro de popularidade capitulava diante não só de sua bête noire de tempos idos, mas principalmente da patologia da sua maior obsessão: desmantelar o reduto tucano em São Paulo, primeiro na capital, na disputa deste ano, depois no Estado, em 2014, para impor a hegemonia petista ao País com a reeleição da presidente Dilma ou - por que não? - a volta dele próprio ao Planalto, "se a Dilma não quiser". Lula não é o único a acreditar que, em política, pecado é perder. Mas foi o único a dizer, em defesa das alianças profanas que fechou na Presidência, que, se viesse a fazer política no Brasil, Jesus teria de se aliar a Judas.
Não se trata, portanto, de ficar espantado com a disposição de Lula de levar a limites extravagantes o credo de que os fins justificam os meios. O que chama a atenção é a sua confiança nos superpoderes de que se acha detentor, graças aos quais, imagina, conseguirá dar a volta por cima na hora da verdade, elegendo Haddad e sufocando a memória da indecência a que se submeteu. Não parece passar por sua cabeça que um número talvez decisivo de eleitores possa preferir outros candidatos, não pelo confronto de méritos com o petista, mas por repulsa à genuflexão de seu patrono perante a figura que representa o que a política brasileira tem de pior.

Lula talvez não se dê conta de que a maioria das pessoas não é como ele: respeita quem se respeita e despreza os que se aviltam, ainda mais para ganhar uma eleição. Ele tampouco se lembrou de que, em São Paulo - berço do PT -, curvar-se a Maluf tem uma carga simbólica incomparavelmente mais pesada do que adular até mesmo um Sarney, por exemplo. Não se iluda o ex-presidente com o recuo da companheira de chapa do candidato, a ex-prefeita Luiza Erundina, do PSB. Ontem ela desistiu da candidatura a vice, como dera a entender na véspera ao dizer que "não aceitava" a aliança com Maluf. Razões outras que não o zelo pela própria biografia podem tê-la compelido, no entanto, a continuar apoiando Haddad. Já os eleitores de esquerda são livres para recusar-lhe o voto pela intolerável companhia.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Olá, Coronel !!!

Só para meu amigo Coronel saber que fui eu mesmo quem o questionou.

Abraços da trincheira,
O Dia da Ira

quinta-feira, 31 de maio de 2012

A arquitetura ridícula modernista

Vamos demolir aquele horrendo hotel do Niemeyer que não combina com nada em Ouro Preto???




***


EUA: demolição ou preservação de prédios modernos "feios"?

de O Globo com informações do The New York Times
GOSHEN - Com o passar dos anos, construções que representaram a vanguarda aquitetônica modernista começam a apresentar sinais de cansaço. Suas formas rígidas chegam a provocar estranhamento em alguns. E também a despertar debates, nos Estados Unidos, entre preservacionistas — que as enxergam como marcos históricos — e grande parte da população, que só as veem como obras feias. De acordo com reportagem publicada no The New York Times, o conflito surgiu recentemente no singular vilarejo de Goshen, situada a 95 quilômetros ao norte da cidade de Nova York, onde o prédio do governo do condado, projetado pelo celebrado arquiteto modernista Paul Rudolph, sempre esteve um tanto deslocado.
— Só não acho que ele combina com a personalidade do condado e da vila de Goshen — disse Leigh Benton, um legislador do município de Orange que cresceu na região. — Sempre achei que ele era um prédio grande e feio.
Finalizado em 1967, o prédio vem desde então se deteriorando devido aos vazamentos no teto, a um sistema de ventilação precário e, mais recentemente, ao mofo. Por fim, a construção foi fechada no ano passado, depois de ter sido avariada por tempestades, inclusive a tropical Irene.
Edward A. Diana, executivo da comarca de Orange, quer demolir o prédio, uma ideia que agrada muitos moradores, mas deixa em alerta os preservacionistas — não só locais como do país todo —, que afirmam que o prédio deve ser preservado. A legislatura do condado deve decidir pela demolição ou pela reforma dele, que começaria este mês.
Os que querem salvá-lo dizem que ele é um exemplo fundamental de um estilo arquitetônico chamado Brutalismo, que rejeita esforços para embelezar as construções em favor da exibição do poder cru das formas simples e dos materiais de construção exibidos de modo franco, como a fachada texturizada do centro governamental.
— A preservação não pode acontecer exclusivamente com as coisas bonitas — diz Mark Wigley, reitor da Faculdade de Arquitetura, Planejamento e Preservação de Columbia. — Trata-se de salvar aquelas construções que são parte importante de nossa história e cujos valores sempre serão objetos de debate.
Debate em Chicago
Um debate semelhante está acontecendo em Chicago, onde preservacionistas vêm lutando para salvar o Prentice Women's Hospital, uma estrutura de concreto em forma de trevo, projetada em 1974 por Bertrand Goldberg, que o National Trust for Historic Preservation (Departamento Nacional de Proteção do Patrimônio Histórico) acrescentou à sua lista de prédios em risco. Em New Haven, Connecticut, o "Veterans Memorial Coliseum", de 1972, foi demolido em 2007 apesar da campanha pela sua salvação.
Na cidade de Nova York, o prédio em forma de pirulito construído por Edward Durell Stone escapou da demolição, mas sofreu uma reforma em 2008 que acabou com sua fachada original.
Preservar construções charmosas dos séculos XVIII e XIX pode ser um esforço; convencer as pessoas a manter estruturas mais recentes e definitivamente "feias", construídas entre os anos 1950 e 70 pode ser uma batalha de magnitude ainda maior, especialmente se elas possuírem vazamentos.
— O fenômeno de um prédio com 30 ou 40 anos de idade estar severamente fora de moda, fazendo com que pessoas queiram alterá-lo ou demoli-lo, é muito real — afirma Frank Sanchis, diretor dos programas americanos no World Monument Fund, sobre o centro de governo do condado de Orange. O fundo colocou o prédio de Goshen na lista de observação em 2012.
Brutalismo em cena
As opiniões são ainda mais fortes quando falamos sobre Brutalismo, um estilo associado ao arquiteto suíço Le Corbusier, que costuma produzir monólitos, como a sede do FBI em Washington e a prefeitura de Boston.
Em entrevista, Theodore Dalrymple, do Manhattan Institute, que havia escrito sobre a arquitetura de Le Corbusier, descreveu as construções brutalistas como "absolutamente horrendas, como se fossem um bombril na retina."
— Um desses prédios pode destruir toda a vista da cidade que foi construída ao longo de centenas de anos — afirma.
Barry Bergdoll, o curador chefe de arquitetura e design do Museu de Arte Moderna, acrescenta:
— O brutalismo devia trazer de volta tudo que remete ao ofício — o concreto não foi aplainado, pode-se sentir a mão do trabalhador ali. Mas ele foi percebido quase que de modo oposto. É uma das grandes falhas nas relações públicas de todos os tempos. A maioria das pessoas vê a arquitetura brutalista literalmente: agressiva, pesada, agourenta e repulsiva.
Rudolph, que faleceu em 1997, foi um arquiteto modernista notável que também projetou o prédio de Arte e Arquitetura de Yale, entre outros. Historiadores da área dizem que o centro de governo de Goshen, que possui cubos ressaltados e uma fachada de concreto enrugado que lembra veludo cotelê, representa o melhor momento de Rudolph.
— Eu identificaria este prédio facilmente como um de seus top 10 - diz Sean Khorsandi, diretor da Fundação Paul Rudolph.
Benton, o legislador do condado, chamou-o de "um monumento mundial à ineficiência". Cada grupo tem sua estimativa de quanto vai custar para renovar o centro – o departamento de preservação estima US$ 35 milhões, a prefeitura diz US$ 64 milhões. Por US$20 milhões adicionais, dizem os oficiais da prefeitura, eles poderiam construir um novo centro (provavelmente tradicional) e fariam melhorias em vários outros prédios do governo, pois os escritórios que estavam no centro foram espalhados pela região.
— Sou uma pessoa bastante moderna quando falamos em arquitetura e pintura. Se o prédio funcionasse como deveria e fosse eficiente e eficaz, eu o deixaria como está — disse Diana, o executivo da prefeitura.
Economias à parte, muitos dizem que o prédio de Rudolph simplesmente nunca pertenceu a Goshen, nem nunca pertencerá. "Ele está muito deslocado", disse Barbara Hatfield, residente há anos no local. "Goshen é o centro do condado. Há muita história neste lugar."
Mas outros argumentam que o prédio também faz parte da história da área.
— Ele reflete um retrato da época, do final dos anos 1960 e começo dos 70, quando nossa história era turbulenta — defende Patricia Turner, estagiária de arquitetura que quer salvar o edifício. — Ele não é tão relevante quanto algo que aconteceu em 1968?
John Hildreth, vice-presidente do National Trust, disse que o gosto na arquitetura muda ao longo dos tempos e, por isso, pode mudar novamente.
— Houve uma época em que as pessoas não estavam preocupadas com a salvação de casas vitorianas, bangalôs, prédios Art Déco... não eram os estilos favoritos de então. É preciso focar no significado do edifício e não em seu estilo, porque estilos vêm e vão. Estamos em um momento onde avaliamos o passado recente e discutimos a respeito daquilo.
Historiadores também afirmam que a apreciação da arquitetura requer estudo.
— É como alguém dizer que não gosta de Pollock porque ele espirrava a tinta — disse Nina Rappaport, presidenta da Docomomo-New York/ Tri-State, uma organização que promove a preservação da arquitetura modernista. — Isso significa que não devíamos deixá-lo no museu? Não, significa que ensinamos as pessoas sobre essas coisas.
Mas Dalrymple afirma que a noção de que o público precisa ser educado a apreciar o Brutalismo é como dizer que as pessoas precisam "ser intimidadas por conta de seu gosto". Não é preciso ser um perito para decidir se um prédio é feio ou não, afirmou, acrescentando:
— É um julgamento estético.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Acorda, Lewandowiski!!!



Texto retirado do blog do Augusto Nunes:

Apaixonado pelo personagem que inventou, Lula embarca na gabolice em reuniões com os companheiros, negociações com aliados ou conversas com o porteiro do prédio onde mora. Graças à loquacidade do falastrão vaidoso, sabe-se agora que o protetor de pecadores assumiu o posto de lobista-chefe da quadrilha do mensalão desde que deixou o Palácio do Planalto. Leia o que escreveu em seu blog, nesta terça-feira, no blog da jornalista Cristiana Lobo:

A preocupação de Lula com o julgamento do caso do Mensalão, conhecida de todos no mundo político, aumentou com a chegada de 2012 – ano do julgamento e, ainda, coincidindo com as eleições municipais nas quais o PT deposita grandes esperanças de crescer, particularmente, em São Paulo, antigo território adversário. Foi a partir daí que ele incluiu o assunto em sua agenda prioritária do ano.Fiel a seu estilo de falar muito e revelar seus passos políticos, mesmo aqueles que exigem maior discrição, Lula contou o desejo de visitar o ministro Ricardo Lewandowiski, ministro-revisor do relatório do Mensalão, um amigo de sua família. E assim fez. No começo do ano, acompanhado do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ele foi à casa de Lewandowski e, conversa-vai-conversa-vem, chegou ao assunto: quando será julgado o mensalão? Sua preocupação central…Depois dessa conversa Lula passou a explicitar aos amigos políticos grande preocupação com a dificuldade de se deixar o julgamento para o ano que vem, Ele diz abertamente que considera inconveniente o julgamento do caso este ano. Com elogios à casa de Lewandowski, num condomínio chique de São Bernardo, Lula relatou a um aliado a pressão que o ministro vem sofrendo para apresentar logo o seu voto-revisor. E mais: o temor de que essa pressão de opinião pública possa afetar o conjunto do julgamento. Este é Lula. Por bravata ou relatando a realidade, ele conta a amigos os seus passos, até mesmo uns que deveriam ser inconfessáveis, como uma visita a um ministro do Supremo Tribunal Federal no ano do julgamento mais importante para sua história política – o caso que marcou negativamente o seu primeiro mandato. Lewandowski ensaiou negar a conversa com Lula. Mas, diante dos detalhes da conversa – a companhia do prefeito e os elogios à casa – ele sorriu e disse: "ele é amigo da família". De fato, a mulher de Lula, Marisa Letícia, foi amiga da mãe do ministro, falecida ano passado.

É muita desfaçatez. Além de confirmar a essência da conversa de Lula com Gilmar Mendes, o texto  acima reproduzido prova que um ex-presidente da República exerce pelo menos desde janeiro o ofício de achacador de ministros do Supremo. E explica por que Ricardo Lewandowski foi tão longe nas manobras forjadas para adiar o julgamento do mensalão. Se desse mais importância ao Estado de Direito, se soubesse rechaçar o assédio de pedintes influentes, o revisor do processo já teria entregue o relatório há muito tempo. O atraso deliberado resultou no episódio que começa a transformar-se em crise institucional.

O julgamento dos mensaleiros já demorou demais. Caso não cumpra seu dever nas próximas horas, Lewandowski transformará a toga de ministro do Supremo na fantasia que disfarça um ministro do Lula.A exasperante insistência em algemar o tempo e bloquear o avanço da Justiça pode ser a gota que fará transbordar o pote até aqui de náusea.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Efeito colateral

Demóstenes Torres agradece a Lula ter desviado a atenção de seu depoimento na CPI...

O beijo de Judas

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Discurso de Alvaro Dias contra a chantagem de Lula

(texto retirado do blog do Coturno Noturno)

Sr. Presidente Senador Paulo Paim, Senador Mozarildo Cavalcanti, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, confesso que este é o discurso que não gostaria de pronunciar. O fato é grave, inusitado, afrontoso e ofende a consciência democrática do povo brasileiro. Há os que negam o holocausto, Lula teima em negar o mensalão. Se inexistem razões para que neguem o holocausto, razões inexistem para que se negue o mensalão.

Postura herege de quem deseja esconder a verdade dos fatos. Certamente o que ocorreu, e foi revelado neste final de semana pela revista Veja, neste embate entre Lula e o Ministro Gilmar Mendes não surpreende a muitos, já que nos acostumamos a ver o Presidente Lula, durante oito anos de seu mandato, como advogado de defesa dos desonestos, a passar a mão na cabeça de corruptos e ditadores mundo afora.

Portanto, essa violência contra duas instituições essenciais no Estado de direito democrático, o Supremo Tribunal Federal e o Parlamento, não surpreende a muitos dos brasileiros. Mas nem por isso deve ser assimilada passivamente, nem por isso não deve existir reação que tenha o tamanho da indignação das pessoas lúcidas deste País.

O Presidente, agora, pretende estabelecer um cerco sobre o Supremo Tribunal Federal e sobre a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Cachoeira, que, para muitos, foi estimulao por ele, com objetivo de desviar o foco do julgamento do mensalão, que o angustia profundamente por ter sido ele o artífice principal ou ter sido ele o alvo dos benefícios propugnados por aqueles que idealizaram o complexo e sofisticado esquema de corrupção que escandalizou as pessoas decentes deste País.

Estamos diante de uma agressão brutal a duas instituições. É evidente que causa espanto ver o ex-Presidente tentando derrotar o Supremo Tribunal Federal, que não foi derrotado nem mesmo pelo autoritarismo. Voltemos aos anos de chumbo e nos lembremos: cassações de mandato ocorreram, até o fechamento do Congresso Nacional, mas o Supremo Tribunal Federal não foi derrotado pelo autoritarismo. Pensa o Presidente Lula em derrotá-lo agora? Alcançará esse intento malévolo? Certamente, não. Mas a palavra da oposição pode ser suspeita para alguns. Há aqueles que certamente afirmarão que a oposição se vale de uma notícia da imprensa para, mais uma vez, agredir o ex-Presidente da República. Não é esse o nosso propósito.

Congresso Nacional agredido; Supremo Tribunal Federal agredido. Nessas duas instituições estão fincados os alicerces essenciais do Estado de direito democrático. Como não reagir a esse avanço que revela resquícios autoritários? Aliás, a democracia brasileira atual é de uma família especial. Sim, há ingredientes democráticos consolidados, mas há resquícios de autoritarismos que sobrevivem. Como consequência, a instituição democrática, que deveria ser valorizada, é substituída pelo populismo autoritário de alguém com carisma e que empolga multidões. E vale-se o ex-Presidente desse populismo carismático para afrontar o Estado de direito democrático, tentando derrotar o Supremo Tribunal Federal, que está prestes a realizar um julgamento histórico, que o valor exara sobremaneira na história do País ou o jogará no chão, diante das expectativas da sociedade brasileira. Nós acreditamos na primeira alternativa.

Vejo que não é apenas a voz da oposição que se apresenta indignada. Vejam o que dizem Ministros do Supremo Tribunal Federal: "se ainda fosse Presidente da República, esse comportamento seria passível de Impeachment, por configurar infração político-administrativa em que um chefe de poder tenta interferir em outro", essa frase é do decano do Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de Mello.

Ainda segundo Ministro Celso de Mello, Senador Cristovam Buarque: "a conduta do ex-presidente da República, se confirmada, constituirá lamentável expressão de grave desconhecimento das instituições republicanas e de seu regular funcionamento no âmbito do estado democrático de direito". "O episódio revela um comportamento eticamente censurável, politicamente atrevido e juridicamente ilegítimo."

Já o Ministro Marco Aurélio afirmou que pressão sobre o Ministro do Supremo é algo impensável. Para o Ministro, "qualquer tipo de pressão ilegítima sobre o Supremo Tribunal Federal é intolerável". O Ministro Marco Aurélio disse: "não concebo uma tentativa de cooptação de um Ministro, mesmo que não se tenha tratado do mérito do processo, mas apenas do adiamento, para não se realizar o julgamento no semestre das eleições. Ainda assim é algo inimaginável. Quem tem que decidir o melhor momento para julgar o processo, e decidirá, é o próprio Supremo".

Enfim, a melhor resposta que o Supremo Tribunal Federal poderia dar é liberar logo os autos do processo, para que o início do julgamento possa se dar o mais rapidamente possível. É preciso que nos reportemos, quando a CPI Cachoeira se instalou, falou-se, anunciou-se que havia sim um estímulo que tinha origem em São Bernardo do Campo e vinha do ex-Presidente da República, na esteira da estratégia de que era preciso desviar o foco do julgamento do mensalão.

E agora isso se explicitou de forma nítida, com clareza solar, quando o ex-Presidente ameaça um Ministro do Supremo de levá-lo à CPI para responder a respeito de uma viagem à Alemanha. E o Ministro corajosamente afirmou: vá fundo na CPI. Eu vou à Alemanha tanto quanto o senhor vai a São Bernardo do Campo, porque lá tenho uma filha. E denunciou à imprensa, em outra manifestação de coragem do Ministro Gilmar Mendes.

Se a atitude do ex-Presidente não tem nada de republicana, certamente a denúncia formulada pelo Ministro Gilmar Mendes é republicana. E teve ele o cuidado de imediatamente comunicar ao Presidente Carlos Ayres Britto do Supremo Tribunal Federal o ocorrido. Essa tentativa de chantagear, essa tentativa de manipular politicamente uma comissão parlamentar de inquérito para alcançar objetivos escusos tem de ser repudiada. E é o que pretendemos com uma representação que vamos encaminhar ao Procurador-Geral da República.

Mas antes, e antes mesmo de conceder o aparte ao Senador Cristovam Buarque, eu gostaria de fazer referência à opinião de um constitucionalista, que diz: Lula cometeu crime.O presidente do Conselho Fundador da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst), Flávio Pansieri, afirmou nessa segunda-feira que o ex-Presidente Lula cometeu crime ao propor ao Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o adiamento do julgamento do mensalão em troca de "blindagem" do magistrado na CPI do Cachoeira. Segundo Pansieri, a notícia representa a maior afronta tornada pública da história do Judiciário brasileiro. Ele conclamou o Ministério Público Federal a entrar imediatamente com uma ação contra Lula, "para evitar que fatos semelhantes voltem a ocorrer no mais importante tribunal do país".

Na opinião do jurista, o Supremo deve agora pautar e concluir o julgamento do mensalão, demonstrando dessa forma a sua independência e autonomia absoluta de relações espúrias com o Poder ou ex-autoridades da República. Portanto, as palavras do jurista se compatibilizam com aquilo que estamos produzindo hoje como providência, uma representação ao Procurador-Geral da República.

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) em 28 de maio de 2012

Ainda há juízes em Berlim

Parabéns a Gilmar Mendes por contar tudo. Ainda há juizes, mesmo que em visita a Berlim

Quanto a Lula, seu lugar é na cadeia. CHANTAGISTA!!!

sábado, 26 de maio de 2012

Lula - Capo di tutti capi

Caras e caros, o que vai abaixo é muito grave. Espalhem a informação na rede, debatam, organizem-se em defesa da democracia. O que se vai ler revela uma das mais graves agressões ao estado de direito desde a redemocratização do país. - Reinaldo Azevedo

Luiz Inácio Lula da Silva perdeu completamente a noção de limite, quesito em que nunca foi muito bom. VEJA publica hoje uma reportagem estarrecedora. O ex-presidente iniciou um trabalho direto de pressão contra os ministros do Supremo para livrar a cara dos mensaleiros. Ele nomeou seis dos atuais membros da corte — outros dois foram indicados por Dilma Rousseff. Sendo quem é, parece achar que os integrantes da corte suprema do país lhe devem obediência. Àqueles que estariam fora de sua alçada, tenta constranger com expedientes ainda menos republicanos. E foi o que fez com Gilmar Mendes. A reportagem de Rodrigo Rangel e Otavio Cabral na VEJA desta semana é espantosa!

Lula, acreditem, supondo que Mendes tivesse algo a temer na CPI do Cachoeira, fez algumas insinuações e ofereceu-lhe uma espécie de "proteção" desde que o ministro se comportasse direitinho. Expôs ainda a forma como está abordando os demais ministros. Leiam trecho. Volto em seguida.

(…)
Há um mês, o ministro Gilmar Mendes, do STF, foi convidado para uma conversa com Lula em Brasília. O encontro foi realizado no escritório de advocacia do ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, amigo comum dos dois. Depois de algumas amenidades, Lula foi ao ponto que lhe interessava: "É inconveniente julgar esse processo agora". O argumento do ex-presidente foi que seria mais correto esperar passar as eleições municipais de outubro deste ano e só depois julgar a ação que tanto preocupa o PT, partido que tem o objetivo declarado de conquistar 1.000 prefeituras nas urnas.

Para espíritos mais sensíveis, Lula já teria sido indecoroso simplesmente por sugerir a um ministro do STF o adiamento de julgamento do interesse de seu partido. Mas vá lá. Até aí, estaria tudo dentro do entendimento mais amplo do que seja uma ação republicana. Mas o ex-presidente cruzaria a fina linha que divide um encontro desse tipo entre uma conversa aceitável e um evidente constrangimento. Depois de afirmar que detém o controle político da CPI do Cachoeira, Lula magnanimamente, ofereceu proteção ao ministro Gilmar Mendes, dizendo que ele não teria motivo para preocupação com as investigações. O recado foi decodificado. Se Gilmar aceitasse ajudar os mensaleiros, ele seria blindado na CPI. (…) "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula", disse Gilmar Mendes a VEJA. O ministro defende a realização do julgamento neste semestre para evi¬tar a prescrição dos crimes.

(…)

Voltei

Interrompo para destacar uma informação importante. Na conversa, Lula insinuou que Mendes manteria relações não-repubicanas com o senador Demóstenes Torres. Quando ouviu do interlocutor um "vá em frente porque você não vai encontrar nada", ficou surpreso. Segue a reportagem de VEJA. Retomo depois:

A certa altura da conversa com Mendes. Lula perguntou: "E a viagem a Berlim?". Ele se referia a boatos de que o ministro e o senador Demóstenes Torres teriam viajado para a Alemanha à custa de Carlos Cachoeira e usado um avião cedido pelo contraventor. Em resposta, o ministro confirmou o encontro com o senador em Berlim, mas disse que pagou de seu bolso todas as suas despesas, tendo como comprovar a origem dos recursos. "Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá", disse Gilmar, que, sentindo-se constrangido, desabafou com ex-presidente: "Vá fundo na CPI". O ministro Gilmar relatou o encontro a dois senadores, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.

Retomando

Sabem o que é impressionante? A "bomba" que Lula supostamente teria contra Mendes começou a circular nos blogs sujos logo depois. O JEG — a jornalismo financiado pelas estatais — pôs para circular a informação falsa de que Mendes teria viajado às expensas de Cachoeira. Muitos jornalistas sabem que o ex-presidente está na origem de boatos que procuravam associar o ministro ao esquema Cachoeira. Ou por outra: Lula afirma ter o "controle político" da CPI e parece controlar, também, todas as calúnias e difamações que publicadas na esgotosfera. Sigamos.

Lula deixou claro que está investindo em outros ministros da corte. Revelou já ter conversado com Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão — só depende dele o início do julgamento — sobre a conveniência de deixar o processo para o ano que vem. Sobre José Antônio Dias Toffoli, foi peremptório e senhorial: "Eu disse ao Toffoli que ele tem de participar do julgamento". Qual a dúvida? O agora ministro já foi advogado do PT e assessor de José Dirceu; sua namorada advoga para um dos acusados. A prudência e o bom senso indicam que se declare impedido. Lula pensa de modo diferente — e o faz como quem tem certeza do voto. Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo e um dos porta-vozes informais do chefão do PT, já disse algo mais sério: "Ele não tem o direito de não participar".

A ministra Carmen Lúcia, na imaginação de Lula, ficaria por conta de Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e atual presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República: "Vou falar com o Pertence para cuidar dela". Com Joaquim Barbosa, o relator, Lula está bravo. Rotula o ministro de "complexado". Ayres Britto, que vai presidir o julgamento se ele for realizado até novembro, estaria na conta do jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, amigo de ambos, que ficaria encarregado de marcar a conversa. Leia mais um trecho da reportagem

(…)

Ayres Britto contou que o relato de Gilmar ajudou-o a entender uma abordagem que Lula lhe fizera uma semana antes, durante um almoço no Palácio da Alvorada, onde estiveram a convite da presidente Dilma Rousseff. Diz o ministro Ayres Britto: "O ex-presidente Lula me perguntou se eu tinha notícias do Bandeirinha e completou dizendo que, "qualquer dia desses, a gente toma um vinho". Confesso que, depois que conversei com o Gilmar, acendeu a luz amarela, mas eu mesmo tratei de apagá-la". Ouvido por VEJA, Jobim confirmou o encontro de Lula e Gilmar em seu escritório em Brasília, mas, como bom político, disse que as partes da conversa que presenciou "foram em tom amigável". VEJA tentou entrevistar Lula a respeito do episódio. Sem sucesso, enviou a seguinte mensagem aos assessores: "Estamos fechando uma matéria sobre o julgamento do mensalão para a edição desta semana. Gostaríamos de saber a versão do ex-presidente Lula sobre o encontro ocorrido em 26 de abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, com a presença do anfitrião e do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no qual Lula fez gestões com Mendes sobre o julgamento do mensalão". Obteve a seguinte frase como resposta: "Quem fala sobre mensalão agora são apenas os ministros do Supremo Tribunal Fe¬deral". Certo. Mas eles têm ouvido muito também sobre o mensalão".

Encerro

É isso aí. Não há um só jornalista de política que ignore essas gestões de Lula, sempre contadas em off. Ele mesmo não tem pejo de passar adiante supostas informações sobre comprometimentos deste ou daquele. Desde o início, estava claro que pretendia usar a CPI como instrumento de vingança contra desafetos — inclusive a imprensa — e como arma para inocentar os mensaleiros.

As informações estarrecedoras da reportagem da VEJA dão conta da degradação institucional a que Lula tenta submeter a República. Como já afirmei aqui, ele exerce, como ex-presidente, um papel muito mais nefasto do que exerceu como presidente. O cargo lhe impunha, por força dos limites legais, certos impedimentos. Livre para agir, certo de que é o senhor de ao menos seis vassalos do Supremo (que estes lhe dêem a resposta com a altivez necessária, pouco impota seu voto), tenta fazer valer a sua vontade junto àqueles que, segundo pensa, lhe devem obrigações. Aos que estariam fora do que supõe ser sua área de mando, tenta aplicar o que pode ser caracterizado como uma variante da chantagem.

Tudo isso para reescrever a história e livrar a cara de larápios. Mas também essa operação foi desmascarada. Por VEJA! Por que não seria assim?

Nem a ditadura militar conseguiu do Supremo Tribunal Federal o que Lula anseia: transformar o tribunal num quintal de recreação de um partido político.